A qualidade das observações astronômicas terrestres depende em parte da transparência da atmosfera acima do local de onde são realizadas. Portanto, os locais para os telescópios são escolhidos com muito cuidado. Eles geralmente estão localizados bem acima do nível do mar, de modo que há menos atmosfera entre eles e os objetos de observação. Muitos telescópios também são construídos em desertos, pois as nuvens e até o vapor de água impedem uma visão clara do céu noturno. Então, como o aquecimento global afeta as observações astronômicas?
Uma equipe de pesquisadores liderada pela Universidade de Berna e pelo Centro Nacional de Competência em Pesquisa (NCCR) PlanetS mostra em um estudo publicado na revista Astronomy & Astrophysics e apresentado no Europlanet Science Congress 2022 em Granada, como um dos principais problemas do nosso tempo - a mudança climática antropogênica - está afetando até mesmo nossa visão do espaço.
Um ponto cego no processo de seleção
"Embora os telescópios normalmente tenham uma vida útil de várias décadas, os processos de seleção de locais levam em consideração as condições atmosféricas em apenas um curto período de tempo. Normalmente, os últimos cinco anos são muito curtos para capturar tendências de longo prazo, muito menos mudanças futuras causadas pelo aquecimento global”, diz Carolina Haslebacher, principal autora do estudo e pesquisadora do NCCR PlanetS na Universidade de Berna.
Portanto, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Berna e do NCCR PlanetS, da Universidade Técnica Suíça de Zurique, do Observatório Europeu do Sul (ESO) e da Universidade de Reading no Reino Unido se comprometeram a mostrar a perspectiva de longo prazo.
Piora das condições em todo o mundo
Sua análise das tendências climáticas futuras com base em modelos climáticos globais de alta resolução mostra que os principais observatórios astronômicos do Havaí às Ilhas Canárias, Chile, México, África do Sul e Austrália provavelmente experimentarão um aumento na temperatura atmosférica e no conteúdo de água até 2050. Isso, por sua vez, pode significar uma perda de tempo para as observações, bem como uma perda da qualidade das observações.
"Hoje, os observatórios astronômicos são projetados para funcionar nas condições atuais e têm poucas possibilidades de adaptação. Portanto, as consequências potenciais das condições climáticas para os telescópios incluem um maior risco de condensação devido a pontos de orvalho mais altos ou falhas nos sistemas de resfriamento, o que pode levar a mais turbulência do ar na cúpula do telescópio", diz Haslebacher.
O fato de o impacto das mudanças climáticas nos observatórios não ter sido levado em consideração antes não foi um descuido, diz a coautora do estudo Marie-Estelle Demory, mas sim devido a limitações de modelagem. "Tal pesquisa tornou-se possível pela primeira vez. Graças à maior resolução dos modelos climáticos globais desenvolvidos no âmbito do projeto PRIMAVERA do Horizonte 2020, conseguimos estudar as condições em diferentes partes do globo com grande precisão, algo que não podíamos fazer com os modelos tradicionais. Esses modelos são ferramentas valiosas para o trabalho que fazemos na Wiss Academy", diz o cientista sênior da Universidade de Berna e membro da Wiss Academy of Nature.
“Isso agora nos permite dizer com confiança que as mudanças climáticas antropogênicas devem ser levadas em consideração ao escolher um local para a próxima geração de telescópios, bem como ao construir e manter instalações astronômicas”, acrescenta Haslebacher.
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